Além de ser uma alternativa à falta de terrenos bem localizados disponíveis nas cidades, o retrofit é uma das formas de contribuir para a revitalização de áreas degradadas que sofrem com a ação do tempo, como é o caso do centro de São Paulo.
Adriana Marques, Coordenadora de Projetos, ressalta que os corporativos, por sua vez, não ficam para trás: ‘‘as modernizações de eficiência energética podem reduzir os custos operacionais, especialmente em edifícios mais antigos, bem como ajudar a atrair inquilinos e a ganhar vantagem em um mercado imobiliário tão competitivo quanto aos das grandes capitais’’, diz.
Alternativa sustentável
A conversão de edifícios comerciais obsoletos e subutilizados em residenciais, como temos visto com frequência, também é uma alternativa aliada da sustentabilidade, uma vez que a infraestrutura e o máximo de materiais são reaproveitados.
A beleza do retrofit está justamente em preservar a essência da edificação e torná-la muito mais funcional e eficiente, tanto em relação ao uso de materiais, quanto em recursos e tecnologias. Sem contar com a redução de emissões de carbono relacionadas a demolição e construção de uma estrutura e fundação novas, em particular, a grande quantidade emitida pelo cimento e pelo aço utilizados na construção: ‘‘aumentar a vida útil das construções é uma ótima solução para as metas de redução de emissões de gases do efeito estufa e auxiliar nos compromissos climáticos’’, comenta Adriana.
Prédios antigos também têm buscado processos de certificação de sustentabilidade de operação e manutenção para guiar as adequações necessárias, reduzir seus impactos ambientais e custos de operação, além de mostrar ao mercado este posicionamento do empreendimento e tornando-o mais competitivo em relação aos prédios novos, muitas vezes em seu entorno.
Preservação da cultura
Do ponto de vista cultural, a técnica do retrofit ajuda a preservar o patrimônico histórico e arquitetônico das cidades, visto que a ideia é manter o estilo arquitetônico dos edifícios, muitos deles construídos há muitas décadas, e que carregam anos de história, principalmente nas grandes cidades, onde prédios modernos convivem com templos, palácios, museus e fortes de séculos atrás. Essas construções revelam muito do que nossa sociedade foi e é.
Harmonia entre passado e presente
Inclusão de elevadores, modernização do sistema de ar condicionado, reforma de fachadas e desenvolvimento de áreas comuns e de lazer como coworking, academia e lavanderia são alguns pontos considerados em um retrofit.
Especialmente quando se fala na conversão de um edifício comercial em residencial, mudanças estruturais muitas vezes são necessárias, mas o objetivo da técnica é que as interferências, principalmente estéticas, sejam as míninas possíveis.
Importante considerar que passamos em média 90% do tempo de nossas vidas em ambientes fechados, conforme o “National Human Activity Pattern Survey”, realizado pela Berkeley Lab Energy, instituição americana que pesquisa e desenvolve tecnologias de energia e redução de impactos ambientais.
Portanto, a responsabilidade dos incorporadores, investidores, equipes de projeto e construção em criar ou readequar ambientes internos em ambientes saudáveis e assim promovam o bem -estar dos usuários é fundamental, ainda mais com a experiência que adquirimos pós pandemia de COVID-19 em relação a ambientes bem ventilados e que promovam o bem-estar e a descompressão.
Os estudos e leis relacionadas a qualidade do ambiente interno, por exemplo, foram melhorando com os anos e, por vezes, a legislação na época da construção desses edifícios não requeria itens nesses aspectos, o que pode causar bastante desconforto nos usuários, criar a síndrome do edifício doente e contribuir com a vacância do empreendimento.
Programa Requalifica Centro
Muito desse movimento de retrofit crescente na cidade de São Paulo nos últimos anos foi impulsionado pelo Programa Requalifica Centro (17.577/21), criado em 2021 e que estabelece incentivos fiscais e edilícios para estimular o retrofit de prédios antigos da região central da cidade.
Segundo a prefeitura da capital, o objetivo é estimular uma maior oferta de imóveis habitacionais para adensar o centro e resgatar sua vocação de ambiente atraente para investimentos.
Confira alguns projetos de retrofit:
Basilio 177 - Metro Arquitetos
O antigo prédio da Companhia Telefônica Brasileira (CTB) e Telesp (Telecomunicações de São Paulo) reabriu este ano após mais de uma década fechado, desta vez como um condomínio de apartamentos com uma galeria aberta de lojas e restaurantes.
O empreendimento em estilo art déco, inaugurado em 1939, é tombado desde 1992 e foi o segundo na cidade de São Paulo a receber o alvará para realizar um retrofit dentro das normas da lei do programa Requalifica Centro.
Canto Rio e Canto Mar - AO-SP e Triptyque Architecture
Na cidade do Rio de Janeiro, o que era um esqueleto de concreto abandonado, concebido para ser um cassino, se transformou no novo Canto Rio e Canto Mar, a ser entregue no final de 2024, que preferiu tirar proveito do que já havia no terreno para criar um imponente residencial de duas torres, uma com vista para o mar, grandes varandas desencontradas, generosas áreas internas e quatro suítes, e outra voltada para a área urbana, com estúdios destinados ao público jovem.
Edifício Guilhermina - Jacobsen Arquitetura
O antigo colégio Saint Patricks, uma das mais fortes memórias arquitetônicas da década de XX do bairro do Leblon, na cidade do Rio, foi transformado em um empreendimento comercial: o Edifício Guilhermina.
Edifício Marajó - Readymake
O edifício Marajó representa o esplendor de uma era já passada do centro de São Paulo. Construído no final dos anos 40, ele prefigura a verticalização do bairro em efervescência. Além da reforma dos 21 apartamentos, o projeto incluiu a reforma dos terraços que trazem uma vista de qualidade para os bairros Barra Funda e Higienópolis.
Edifício Virgínia - Somauma e Metrópole Arq
Em 2020, a Somauma enxergou seu potencial e deu início ao sonho de regenerar o edifício, transformando-o em um lugar único, no qual as pessoas adorariam voltar a viver. Após um ano e meio de ativações criativas e artísticas, o projeto de retrofit prevê a criação de um ambiente vibrante e sustentável. Um espaço repleto de vida e cultura que mira com firmeza para o futuro respeitando sua história.
O projeto pretende preservar a fachada e pontos específicos da memória do Virgínia.
Edifício Magdalena Laura - Vapor arquitetura
O Edifício Magdalena Laura, no bairro da República, em São Paulo, foi construído em 1957 para uso comercial e convertido em residencial no ano passado. Para resolução das unidades, foram concebidas 17 tipologias diferentes de apartamentos de 40 a 135 m2.
Complexo Cidade Matarazzo
Não se pode falar em retrofit recente sem mencionar o Complexo Cidade Matarazzo. O projeto surge a partir do restauro de um complexo centenário com 10 edifícios tombados em um terreno de 30.000 m2, localizado aos pés da Avenida Paulista, cartão postal de São Paulo.
O local onde funcionou o hospital popularmente conhecido como Matarazzo – e a Maternidade Condessa Filomena Matarazzo, erguidos em 1904 e 1943, respectivamente, abriga agora o hotel ROSEWOOD SÃO PAULO, além de um centro cultural de primeiro mundo, uma fashion megastore com mais de 70 marcas exclusivas no Brasil e 34 pontos de gastronomia.
Para ajudá-lo a contar essa história, Alexandre Allard reuniu alguns dos maiores talentos mundiais da arquitetura, arte e design: Jean Nouvel, Philippe Starck, Rudy Ricciotti, Rhada Arora, Ateliers de France, Irmãos Campana, Adriana Levisky, Adam Kurdahl, Louis Benech, Malherbe, Triptyque.
Quer saber tudo sobre retrofit? Leia também: Retrofit, o que é e as principais vantagens.