- Procura ultrapassa largamente a oferta em vários segmentos residenciais, como o alojamento para estudantes, as residências assistidas para idosos e o arrendamento acessível
- Portugal destaca-se como um dos países europeus com maior desequilíbrio no setor residencial
O setor residencial europeu está a posicionar-se para um crescimento substancial até 2040, de acordo com o relatório Unpacking Europe's Living Revolution (Desvendando a revolução residencial na Europa) da Cushman & Wakefield. A procura de diferentes tipos de alojamento residencial está a aumentar, em linha com alterações demográficas mais vastas e agentes específicos de mudança, incluindo a inacessibilidade dos preços de habitação tradicional, o crescimento das cidades, o envelhecimento da população e um nível mais elevado de habilitações.
O aumento da procura por alojamento privado para arrendamento é sustentado por um declínio na acessibilidade dos preços da habitação em toda a Europa. A acessibilidade residencial tradicional diminuiu quase 30% no Reino Unido na última década e até 50% noutros países europeus, incluindo Portugal e Irlanda. A procura gerada por esta situação, apelidada de “geração do arrendamento”, combinada com a falta de oferta no mercado de arrendamento, contribuiu para um forte aumento dos preços das rendas em praticamente todos os países europeus. A Polónia lidera com um aumento de 29% nos últimos três anos, seguida de Portugal (15,2%), República Checa (12,9%) e Espanha (9,7%).
Mudanças demográficas e o crescimento das cidades também estão a impulsionar a procura no setor residencial. Espera-se que as populações das grandes cidades cresçam entre 5 e 15% até 2040, continuando a ser um claro motor de procura no setor residencial na próxima década e além.
Entretanto, estima-se que o número de pessoas com mais de 65 anos aumente entre 20 e 40%, impulsionando a crescente procura de alojamento para séniores com prestação de cuidados de saúde. Ao mesmo tempo, a Europa registou um aumento dos níveis de ensino superior, de 25% para 32% na última década, o que teve um impacto no extremo oposto do espectro etário. A necessidade de alojamento estudantil construído de propósito (PBSA) cresceu em conjunto com este aumento, bem como a migração de estudantes de países asiáticos e africanos para estudar na Europa.
De acordo com Ana Gomes, Partner e Head of New Business & Alternatives do departamento de Investimento da Cushman & Wakefield em Portugal: “Este estudo vem mostrar como Portugal se destaca como um dos países europeus com maior desequilíbrio no setor residencial, uma realidade que se acentua com as significativas mudanças demográficas em curso. A crescente chegada de imigrantes, o progressivo envelhecimento da população e o incremento da população estudantil são dinâmicas que intensificam a procura por habitações ajustadas a requisitos específicos, quer sejam económicos, de localização ou de serviços complementares.”
Antevê-se que a procura por novas modalidades de alojamento residencial conheça um aumento notável nas próximas décadas, segundo os dados da consultora.
“Contudo, a ausência de uma oferta condizente poderá precipitar uma crise habitacional de maior gravidade. Torna-se, portanto, inadiável implementar medidas extraordinárias que motivem os promotores a investir e a desenvolver novas soluções de alojamento. Estas iniciativas deverão priorizar a eficiência nos processos de licenciamento e a diminuição dos custos construtivos e operacionais.
O futuro deste setor encontra-se num ponto crítico. Sem a implementação de estratégias inovadoras e corajosas, o país poderá ser confrontado com uma crise habitacional de dimensões consideráveis. Porém, mediante as decisões corretas, Portugal possui a capacidade (e o interesse de promotores e investidores) de reverter este desafio, ao potenciar a oferta de habitação acessível e de elevada qualidade para a totalidade dos seus habitantes”, conclui Ana Gomes.